domingo, 7 de junho de 2009

Peregrina na África--Arcelina Helena Publio Dias

Solidariedade / Arcelina Helena Publio Dias
Peregrina na África
Jornalista que passou um mês vivendo com
um salário mínimo na periferia de Belo
Horizonte publica livro depois de viajar 115
dias pela África, onde morou em favelas e conviveu com pobres e famintos

Marina Monzillo



Piti Reali

“Vendi minha casa e todos os meus pertences, de celular a móveis. Doei o dinheiro para instituições de dependentes químicos e fui morar num Mosteiro ’’,
Arcelina Dias, que perdeu o único filho, de 20 anos, usuário de drogas
Cuidar das crianças órfãs com aids no Quênia, trabalhar nas favelas da África do Sul, ir à colheita junto com uma família muçulmana do Senegal, cujo patriarca tem três esposas e 27 filhos. Essas foram algumas das experiências da jornalista Arcelina Helena Publio Dias nos 115 dias que passou convivendo com a população carente da África e Oriente Próximo durante o ano de 2000. “Foi uma peregrinação e não uma reportagem, porque vivi a situação deles, vesti a roupa deles, comi o que eles comiam”, conta.

As vivências da paulista de 57 anos estão relatadas no livro Perdão, África, Perdão (330 págs., R$ 20), o segundo de um projeto, patrocinado por ela mesma, que tem como intuito percorrer o caminho dos excluídos nos cinco continentes. Sinais de Esperança, editado em 2001, narrou a viagem da jornalista pelas Américas. O próximo destino será a Ásia.
Arcelina trabalhou como repórter em vários jornais de São Paulo, Rio e Brasília. Cobrindo a área trabalhista, interessou-se pela questão social. Em 1995, escreveu Crônica do Salário Mínimo, depois de passar um mês vivendo com 70 reais na periferia de Belo Horizonte. “Tinha um real para comer por dia, emagreci quatro quilos”, lembra.

Há cinco anos, uma tragédia pessoal fez com que repensasse a vida e desse uma guinada completa. Divorciada duas vezes, Arcelina perdeu o único filho. Aos 20 anos, Pedro, que era usuário de drogas, foi encontrado morto no Lago Paranoá, em Brasília. Dilacerada pelo sofrimento, ela buscou conforto junto aos monges beneditinos da cidade de Goiás. “Vendi minha casa no Lago Norte e todos os meus pertences, de telefone celular a móveis. Doei o dinheiro para instituições que cuidam de dependentes químicos e fui morar, como leiga consagrada, no Mosteiro da Anunciação”, conta. “Me desliguei dos supérfluos. Sem dúvida, sou mais feliz. Só não sou mais porque tenho muita saudade do meu filho.”


Fotos: Arquivo Pessoal

Na festa da Deusa Mindess, em Fatick, Senegal

A vida comunitária que passou a levar e as atividades voluntárias cresceram ainda mais com o projeto de peregrinação. Em cada lugar que visita, Arcelina se hospeda em casas de famílias simples, mas que desenvolvem trabalhos solidários. Apesar
de toda a hospitalidade, a jornalista se viu algumas vezes
em situações difíceis. Em Angola, por exemplo, foi acome-
tida de febre tifóide. No Senegal, torceu o nervo ciático. “Quando me vi correndo médicos, levando injeção na veia e nada de a dor passar, pensei: ‘Vou-me embora, pego um avião, gasto todo meu dinheiro se for preciso’”, lembra. Porém, para sair de Tambacunda, um vilarejo senegalês
onde o calor beira o insuportável, a única maneira era ir sacolejando numa lotação. A solução, então, foi esperar o

Assista entrevista no Jô

http://www.youtube.com/watch?v=aA4cwOgczbw
http://www.youtube.com/watch?v=L7GM_mAl0Mg


efeito dos ungüentos preparados por seu anfitrião.

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