domingo, 25 de agosto de 2013

Importação de médicos cubanos

Texto :
(Emmanuel Publio Dias)
 
"Este episódio da contratação de médicos cubanos tem me intrigado porque supera qualquer possibilidade lógica de entendimento, mesmo que sob critérios petistas, para quem tudo vale à pena se a vantagem eleitoral não for pequena.

Pesquisas e mais pesquisas (e o dia-a-dia dos brasileiros) deixam claro que, bem ou mal, os brasileiros estão satisfeitos com a vida que vem levando, em todas as faixas, atendidos de uma forma ou de outra pelo governo petista, dos miseráveis que se tornaram bem menos miseráveis até grandes grupos econômicos subsidiados pelo BNDES, passando pelos vários níveis de classe média. Afinal temos pleno emprego, mais vagas na universidade e crédito ilimitado nas Casas Bahia. Sem esquecer, é claro, de todos os beneficiados pela nova corporação oficial, os milhões de novos funcionários públicos e novos produtores culturais desde Alexandre Herchcovitch até os fora do eixo Brasília-Paris.

As mesmas pesquisas deixam também muito claro que o brasileiro reclama (muito) de dois temas: saúde e segurança, sendo que segurança é um tema mais afeito àquela parcela de eleitores urbanos que tem medo de sair às ruas, andar de carro, usar relógio, enfim esses hábitos burgueses, irrelevantes para a grande parcela do eleitorado premium dos petistas, que vive em grotões rurais ou suburbanos que, graças à Bolsa Família, agora comem, não morrem (muito) mais, portanto aumentam a demanda de serviços sociais, principalmente de saúde. Tenho certeza de que a queda nas pesquisas da popularidade e intenção de voto em Dilma nestes rincões preocupou muito mais que a natural e esperada queda nos centros urbanos e redes sociais. Nestes segmentos, quem vota PT, geralmente confirma, ou no máximo migra temporariamente (é o que eles dizem) para Marina. Portanto, segundo esta leitura, não preocupa.

Já a perda de votos em colégios eleitorais e extratos mais distantes das redes sociais e urbanos é muito preocupante, segundo a cartilha da nova democracia petista, em que o importante é manter estes votos, seja a custa de que for, pois são os que garantem a reeleição.

Saúde e segurança são, portanto, os temas a resolver. E como não se atrevem a atacar as reais causas da violência, não dá para consertar as mazelas do SUS até 2014 e não há um exercito de 4000 soldados dispostos a vir para o Brasil ajudar a combater o crime, que tal retomar a ideia de trazer os médicos cubanos? Seguramente, seriam esses os planos dos mesmos estrategistas que sugeriram à presidente convocar uma assembleia constituinte para atender ao grito das ruas.

Não deu certo antes e dificilmente dará certo agora, não importam os as denuncias da classe médica, dos juristas e da opinião pública, já vimos que (para eles) isto não é importante na manutenção de votos dos mais humildes. Trazemos os médicos, eles farão o atendimento básico em municípios sem médicos e garantimos os precisos votos da reeleição, sem contar o prazer secreto de valorizar nossas importantes relações com o governo de Cuba e encher o saco da mídia golpista. Perfeito.

Não preciso me alongar em todas as criticas, alertas, denúncias sobre as condições de trabalho, legalidade, eficiência e resultados práticos desta ação. Como disse no inicio, faço esta análise do ponto de vista da lógica petista: assistimos à população de mais baixa renda e resolvemos um dos itens de maior problema e queixas destes eleitores.

Se tudo der certo (e juro, torço para que dê), há dois complicadores que são intransponíveis: primeiro, o fator humano. A despeito dos discursos ideologicamente afinados dos primeiros doutores que chegaram ao Brasil, falando em missão humanitária e desapego aos bens materiais, quem já esteve na ilha, saber que esta não é a média dos sentimentos dos cubanos e certamente, não será a média dos sentimentos dos médicos que virão. Confrontados com uma experiência de liberdade de expressão, exercício profissional, acesso à cultura e aos bens de consumo, acolhidos pela generosa população brasileira e nossa tradição de mesclar culturas, na cama e na mesa, não tardaremos a conhecer histórias de Ramirez e Cleusas, Juanitos e Marias, González e Severinas. E despeito da história das famílias que ficaram como reféns, haverá uma enxurrada de pedidos de asilo.

Se numa pequena delegação olímpica, dois jogadores pediram asilo, estatisticamente é de se esperar que, num grupo de 4000, dezenas façam o mesmo. E é a estatística que explica o segundo fator a colocar em risco toda esta arriscada manobra de importar médicos cubanos. Como não se alteram nenhum dos outros fatores que determinam a saúde e a mortalidade dos brasileiros, é de se esperar que ocorram óbitos assistidos por estes médicos cubanos, da mesma forma e em igual proporção que ocorrem entre os pacientes assistidos por médicos brasileiros. Só a cobrança será diferente.

Enfim, todo este imbróglio, de futuro imprevisível, é mais uma demonstração da absoluta incompetência deste governo sem planos, sem metas, sem diálogos, sem apoios (partido comprado não vale), sem ética, que visa unicamente a sua própria manutenção no poder e pensa que o marketing pode substituir a política. Ruim em política, pior em marketing. Até quando se mantém?"

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