Importação de médicos cubanos
Texto :
(Emmanuel Publio Dias)
"Este episódio da contratação de médicos cubanos tem me intrigado porque
supera qualquer possibilidade lógica de entendimento, mesmo que sob
critérios petistas, para quem tudo vale à pena se a vantagem eleitoral
não for pequena.
Pesquisas e mais pesquisas (e o dia-a-dia dos
brasileiros) deixam claro que, bem ou mal, os brasileiros estão
satisfeitos com a vida que vem levando, em todas as faixas, atendidos de
uma forma ou de outra pelo governo petista, dos miseráveis que se
tornaram bem menos miseráveis até grandes grupos econômicos subsidiados
pelo BNDES, passando pelos vários níveis de classe média. Afinal temos
pleno emprego, mais vagas na universidade e crédito ilimitado nas Casas
Bahia. Sem esquecer, é claro, de todos os beneficiados pela nova
corporação oficial, os milhões de novos funcionários públicos e novos
produtores culturais desde Alexandre Herchcovitch até os fora do eixo
Brasília-Paris.
As mesmas pesquisas deixam também muito claro
que o brasileiro reclama (muito) de dois temas: saúde e segurança, sendo
que segurança é um tema mais afeito àquela parcela de eleitores urbanos
que tem medo de sair às ruas, andar de carro, usar relógio, enfim esses
hábitos burgueses, irrelevantes para a grande parcela do eleitorado
premium dos petistas, que vive em grotões rurais ou suburbanos que,
graças à Bolsa Família, agora comem, não morrem (muito) mais, portanto
aumentam a demanda de serviços sociais, principalmente de saúde. Tenho
certeza de que a queda nas pesquisas da popularidade e intenção de voto
em Dilma nestes rincões preocupou muito mais que a natural e esperada
queda nos centros urbanos e redes sociais. Nestes segmentos, quem vota
PT, geralmente confirma, ou no máximo migra temporariamente (é o que
eles dizem) para Marina. Portanto, segundo esta leitura, não preocupa.
Já a perda de votos em colégios eleitorais e extratos mais distantes
das redes sociais e urbanos é muito preocupante, segundo a cartilha da
nova democracia petista, em que o importante é manter estes votos, seja a
custa de que for, pois são os que garantem a reeleição.
Saúde
e segurança são, portanto, os temas a resolver. E como não se atrevem a
atacar as reais causas da violência, não dá para consertar as mazelas
do SUS até 2014 e não há um exercito de 4000 soldados dispostos a vir
para o Brasil ajudar a combater o crime, que tal retomar a ideia de
trazer os médicos cubanos? Seguramente, seriam esses os planos dos
mesmos estrategistas que sugeriram à presidente convocar uma assembleia
constituinte para atender ao grito das ruas.
Não deu certo
antes e dificilmente dará certo agora, não importam os as denuncias da
classe médica, dos juristas e da opinião pública, já vimos que (para
eles) isto não é importante na manutenção de votos dos mais humildes.
Trazemos os médicos, eles farão o atendimento básico em municípios sem
médicos e garantimos os precisos votos da reeleição, sem contar o prazer
secreto de valorizar nossas importantes relações com o governo de Cuba e
encher o saco da mídia golpista. Perfeito.
Não preciso me
alongar em todas as criticas, alertas, denúncias sobre as condições de
trabalho, legalidade, eficiência e resultados práticos desta ação. Como
disse no inicio, faço esta análise do ponto de vista da lógica petista:
assistimos à população de mais baixa renda e resolvemos um dos itens de
maior problema e queixas destes eleitores.
Se tudo der certo (e
juro, torço para que dê), há dois complicadores que são
intransponíveis: primeiro, o fator humano. A despeito dos discursos
ideologicamente afinados dos primeiros doutores que chegaram ao Brasil,
falando em missão humanitária e desapego aos bens materiais, quem já
esteve na ilha, saber que esta não é a média dos sentimentos dos cubanos
e certamente, não será a média dos sentimentos dos médicos que virão.
Confrontados com uma experiência de liberdade de expressão, exercício
profissional, acesso à cultura e aos bens de consumo, acolhidos pela
generosa população brasileira e nossa tradição de mesclar culturas, na
cama e na mesa, não tardaremos a conhecer histórias de Ramirez e
Cleusas, Juanitos e Marias, González e Severinas. E despeito da história
das famílias que ficaram como reféns, haverá uma enxurrada de pedidos
de asilo.
Se numa pequena delegação olímpica, dois jogadores
pediram asilo, estatisticamente é de se esperar que, num grupo de 4000,
dezenas façam o mesmo. E é a estatística que explica o segundo fator a
colocar em risco toda esta arriscada manobra de importar médicos
cubanos. Como não se alteram nenhum dos outros fatores que determinam a
saúde e a mortalidade dos brasileiros, é de se esperar que ocorram
óbitos assistidos por estes médicos cubanos, da mesma forma e em igual
proporção que ocorrem entre os pacientes assistidos por médicos
brasileiros. Só a cobrança será diferente.
Enfim, todo este
imbróglio, de futuro imprevisível, é mais uma demonstração da absoluta
incompetência deste governo sem planos, sem metas, sem diálogos, sem
apoios (partido comprado não vale), sem ética, que visa unicamente a sua
própria manutenção no poder e pensa que o marketing pode substituir a
política. Ruim em política, pior em marketing. Até quando se mantém?"
Nenhum comentário:
Postar um comentário